No Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, comemorado neste domingo (21), o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro) homenageou um dos nomes mais famosos no combate à intolerância religiosa no Brasil. O poeta, dramaturgo, político, professor universitário e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras Abdias Nascimento, também fundador do Teatro Experimental do Negro, do Museu de Arte Negra, foi um dos ícones do combate ao racismo no país.
A programação envolveu exibição gratuita de filmes sobre a vida e obra de Abdias Nascimento, no Memorial Municipal Getúlio Vargas, no Largo do Russell, na Glória, zona sul do Rio, seguida de mesa redonda abordando o combate à intolerância religiosa.
Aberta ao público, o programa teve participação de acadêmicos, religiosos e estudiosos do tema. As homenagens serão encerradas à noite com performance artística
Valorização
Viúva de Abdias Nascimento, Elisa Larkin Nascimento informou que, como parte dessa luta, o homenageado combatia também a discriminação contra as religiões de matriz africana. “Em seu trabalho, ele sempre procurou valorizar as matrizes culturais africanas, coisa que até hoje o Brasil tende a desprezar, menosprezar ou subvalorizar e designar apenas as áreas de atuação estereotipadas”.
Para Elisa, o Brasil ainda está muito atrasado no que se refere ao combate à intolerância religiosa. Nos últimos dois anos, salientou que a sociedade tem assistido a uma onda de violência contra comunidades religiosas de matriz africana, com ataques, invasões, depredações, violência “e, inclusive, até apedrejamento de meninas que vão às escolas”.
A discriminação contra crianças dessas religiões africanas nas escolas é uma coisa acintosa, apontou. “Na verdade, até hoje, essas religiões são vistas pela maioria das pessoas de forma preconceituosa e pejorativa”, afirmou Elisa.
No último dia 19, decreto do governador Luiz Fernando Pezão, publicado no Diário Oficial, criou o Conselho Estadual de Defesa e Promoção da Liberdade Religiosa, inédito no país. Elisa Larkin afirmou que toda tentativa de criar mecanismos de combater a intolerância religiosa “é positiva e importante”.
Advertiu, porém, que um conselho estadual tem limitações na sua possibilidade de atuação. Externou seu desejo de que o conselho tenha sucesso na formulação de políticas públicas que possam, de fato, diminuir a intolerância no Brasil.
Números
No ano passado, a cidade do Rio de Janeiro registrou pelo menos um caso de intolerância religiosa por semana, segundo informação da Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos (SEDHMI), cujas equipes atenderam ao todo 67 vítimas, em 2017.
A maioria dos casos ocorreu por discriminação (29%), seguida por depredação de templos (26%) e difamação (18%). As agressões verbais e físicas correspondem a 6%. A maior predominância dos casos ocorreu no município de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, que ocupa o segundo lugar no ranking de intolerância, com 14%, depois da capital fluminense (43,5%).
Em terceiro lugar aparece o município de Duque de Caxias, também na Baixada, com 6%. A SEDHMI destacou que 12% dos casos acompanhados ocorreram em ambiente virtual.
A maioria dos ataques teve como alvo religiões de matriz africana. Candomblé (45%) e umbanda (16%) foram as maiores vítimas de intolerância religiosa no último ano, revelou a secretaria.
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